
O Auto da Barca do Inferno, de Gil Vicente, foi o acrescento de junho na prateleira de livros proibidos da Câmara Municipal de Oeiras. Para divagar sobre a obra, foi convidada Maria do Céu Guerra, numa conversa moderada por Maria Flor Pedroso. Representado pela primeira vez em 1517, o Auto da Barca do Inferno tem como ação o julgamento num cais, onde os juízes, um Anjo e um Diabo, discutem quem entrará na barca de cada um, condenando os seus passageiros à viagem para o Céu ou para o Inferno. Por lá passa a representação de toda a sociedade portuguesa da época; desde o Fidalgo ao Parvo, figura recorrente da obra de Gil Vicente, sendo que no final o Diabo é quem leva mais passageiros na barca. Mestre de retórica de representação, Gil Vicente foi contemporâneo dos Descobrimentos mas, ao contrário de Camões, que exaltou os feitos portugueses, fez antes uma crítica mordaz, na caricatura que construiu da sociedade portuguesa de então, sobretudo da igreja.