Casa do Alambique, estrutura rara e monumental

Casa do Alambique, estrutura rara e monumental

20 fev 2014
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No âmbito dos trabalhos de recuperação e valorização do Lagar de Azeite e da Casa do Alambique, localizados na Quinta do Marquês de Pombal, em Oeiras, foi necessário averiguar a funcionalidade da estrutura de alvenaria existente no interior da Casa do Alambique.Tal estrutura, que se situa do lado sul do edifício, ocupando a totalidade da parede daquele lado, servia de apoio ao grande alambique, o qual, por ter há muito desaparecido, impedia que se soubesse exatamente qual o seu tipo e, por consequência, a natureza da bebida alcoólica que ali se destilava. Para tal, importava conhecer em pormenor o interior da estrutura de alvenaria argamassada, correspondente à antiga fornalha do alambique, completamente entulhada, aproveitando-se a oportunidade para verificar a natureza do revestimento original do pavimento do edifício, atualmente coberto por tijoleira cerâmica moderna. Com autorização do IGESPAR, o Centro de Estudos Arqueológicos do Concelho de Oeiras avançou, assim, para o registo da estrutura de destilação em planta e alçado, para recolha dos artefactos que entulhavam a fornalha, tendo em vista a identificação da sua última utilização, para análise da natureza dos materiais que preenchiam completamente a fornalha e para caracterização do antigo piso da casa do alambique, eventualmente preservado sob a tijoleira cerâmica moderna.Os trabalhos realizaram-se em 2009, sob a coordenação de João Luís Cardoso, e contaram com a participação de Conceição André, Bernardo Ferreira e Filipe Martins.

 

A metodologia utilizada consistiu no esvaziamento manual da fornalha, com a recolha e observação das características do respetivo enchimento, bem como a observação e registo gráfico e fotográfico do interior da mesma, até ao nível do chão primitivo. No respeitante à natureza do enchimento da fornalha, observou-se grande abundância de fragmentos de carvões e de cinzas, indício de que, aquando do seu abandono definitivo, os depósitos resultantes de anteriores combustões foram deixados no seu interior. A altura em que a última operação de aquecimento se realizou pode situar-se na primeira metade do século XX, dada a ocorrência, entre outros materiais, de fragmentos de garrafas de vidro daquela época.Do ponto de vista estrutural, a fornalha evidenciou, a meia altura, uma armação de quatro varões e ferro, fortemente corroídos pelo calor, destinada, não ao suporte do alambique, mas sim a reforçar a solidez da estrutura, constituída por parede circular de tijolos sobrepostos. O fundo da caldeira apresenta-se revestido de tijoleiras com fortes marcas de fogo, indício da intensidade da sua utilização. Adjacente à caldeira e a ela ligada, situa-se uma estrutura de planta circular, de alvenaria de calcário cuidadosamente aparelhado e com juntas bem fechadas, onde se situava a serpentina do alambique, arrefecida por água corrente.Trata-se, assim, de um tanque cilíndrico, alimentado por uma torneira, onde o líquido destilado, resultante da condensação produzida na serpentina, seria recolhido, no exterior da estrutura de arrefecimento. É fácil imaginar o tamanho do alambique e a quantidade elevada do produto destilado, pela importância da estrutura agora pela primeira vez caracterizada, tanto da fornalha, onde caldeira do alambique era diretamente aquecida, como do tanque cilíndrico, onde se alojava a serpentina do alambique, para quea condensação, acelerada pela circulação externa de água de arrefecimento, fosse mais rápida. Apesar de se desconhecer que tipo de produto se produzia, é admissível pensar que se tratasse de aguardente, a partir da destilação do bagaço ou do vinho. A intervenção arqueológica interessou ainda a remoção localizada do chão de tijoleira cerâmica moderna na zona adjacente à estrutura de arrefecimento, tendo-se verificado que, sob o chão moderno, existia um pavimento constituído por lajes, tijoleiras e argamassas da época de funcionamento do alambique, enquanto a área restante do chão do edifício, o primitivo piso era constituído por lajes de calcário bem ajustadas e aparelhadas, em muito bom estado de conservação, recomendando-se por isso a remoção integral do piso moderno.