A Casa dos Espíritos, de Isabel Allende, é o mais famoso romance da escritora, publicado em 1982, tendo sido bem recebido pela crítica e transformando-se de imediato num dos maiores best-sellers da literatura.
Foi adaptado para cinema em 1993, por Billie August e contou com interpretações magistrais que fazem já parte do imaginário e património cinéfilo mundial, como Meryl Streep ou Jeremy Irons. A razão porque se seleciona este livro no painel de livros deste ciclo não é por constituir um caso paradigmático de censura (o livro é da década de 80 do século passado e foi um caso de sucesso imediato), mas porque a sua história, para além de ser habitada por três personagens femininas fortes e ser, por isso, um discurso literário no feminino, está ligada a esse movimento político importante no Chile: a revolução socialista e a ditadura de Pinochet.
É uma história épica de três gerações da família Trueba e do seu envolvimento na revolução socialista chilena, revelando a extensão, visão e conhecimento da autora sobre estes acontecimentos da história do Chile no século XX, do caos do governo de Salvador Allende, seu familiar próximo, do golpe militar que o destituiu e da repressão subsequente. O socialismo e o ideal revolucionário surgem, por isso, retratados no livro e muito embora o Chile fosse considerado um país geograficamente isolado, as influências não puderam ser evitadas. Várias personagens fictícias simbolizam esta luta e a nossa autora convoca várias pessoas reais que representam estes ideais. Ela opta por não mencionar os seus nomes, mas Salvador Allende, por exemplo, é designado como Candidato e depois eleito como Presidente. Pablo Neruda é o Poeta. Augusto Pinochet o Ditador.
São estes ingredientes simultaneamente ficcionados e reais que fundamentam a nossa escolha, num regime repressivo sobejamente conhecido. Além do mais, o livro faz ainda parte de algumas listas de livros censurados, como por exemplo, na ALA (American Library Association) e no próprio Chile, aquando da sua publicação.
Com Maria João Luís, atriz e encenadora, muito conhecida nas novelas televisivas. A moderação é de Maria Flor Pedroso.