O vitral de Almada Negreiros renascido 60 anos depois

O vitral de Almada Negreiros renascido 60 anos depois

13 abr 2016
  • obras municipais

 

A obra que o genial artista concebeu em 1954 para o novo edifício destinado a Biblioteca municipal de Oeiras e sede dos Serviços Municipalizados de Água e Saneamento, apresentava desde há alguns anos diversos abaulamentos, quebras e sujidades próprias do tempo de vida destas estruturas.

Impunha-se um diagnóstico profundo e uma intervenção cuidada pela preciosidade da obra e a sua fragilidade. Para isso seguiram-se os princípios para a conservação e restauro de vitral definido pelo Corpus Vitrearum Medii Aevi, de que Portugal é membro. A operação obrigou à retirada de grande parte dos 17 painéis que constituem o vitral e o seu transporte para o atelier de restauro situado em Porto de Mós, onde permaneceram cerca de 4 meses.

O vitral inserido no janelão da escadaria nobre dos Paços do Concelho tem 2,00mx 3,80m. A obra tem forte base geométrica, onde duas soberbas colunas laterais dão referências ao cereal dourado dos campos,

mas o motivo central é o brasão e a bandeira do concelho de Oeiras numa composição recriada de forma muito feliz por José de Almada Negreiros (1893-1970), nessa época também com 60 anos de idade.

O cisne “renascido” de Almada Negreiros adquiriu outra elegância pelo apuramento e redesenho.

Cortaram-me as guias, escreve num poema desse tempo. O toque do artista está bem visível, nomeadamente, na forma das asas que agora se abrem de forma protetora, adquirindo volume pelo sombreado.

Filho d’asas / Sabe voar” reconhece o artista que nasceu com asas para altos voos e que evidentemente se enamorou pela luz e pureza simbólica da ave oeirense, que tanto pode ser Zeus transfigurado, como o cisne que guia o filho de Parsifal ou o fiel acompanhante de Apolo. Há neste vitral de Oeiras uma relação visível e invisível ao vitral Eros e Psique que o artista concebe no mesmo ano para o seu amigo e poeta José Manuel Ferrão e que hoje se encontra na Assembleia da República. O mesmo elemento alado é importante na reflexão almadiana, e se na psique as asas estão desfalecidas, em Oeiras estão na vertical em posição de imponência e garbo.

A intervenção foi da responsabilidade da Divisão de Projetos Especiais-Nucleo de Projetos, unidade orgânica a quem está atribuído, dentro de Departamento de Habitação e Reabilitação Urbana, desenvolver

projetos de equipamentos municipais e património histórico, cultural e museológico, assim como desenvolver os procedimentos de apoio à prossecução de obras de interesse municipal que envolvam equipamentos ou o restauro e intervenção.

Valor da intervenção: € 18.000,00.