Livros Proibidos da América Latina

Livros Proibidos da América Latina

18 jun 2014
  • Cultura
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No mês de maio o projeto Livros Proibidos convocou um dos maiores vultos da cultura literária mundial: Jorge Luís Borges. A obra em análise, História Universal da Infâmia, um livro sobretudo polémico, mas também com episódios de censura. Desde logo em Portugal. Figura numa lista de 900 livros censurados pela polícia política do Estado Novo, elaborada por José Brandão e publicada pelo Jornal Expresso em 2012. O escritor Pedro Mexia foi o convidado desta sessão de Livros Proibidos moderada por Ricardo Costa no passado dia 21 de maio, no Auditório da Biblioteca Municipal de Oeiras. A recusa do Prémio Nobel da Literatura de Jorge Luís Borges, autor maior do pensamento, deveu-se, sobretudo, ao seu posicionamento político, nomeadamente durante a ditadura militar argentina, quando estava completamente cego. O autor escreveu este conjunto de pequenos contos/relatos/biografias na sua juventude, entre 1933 e 1934, dando a conhecer de uma forma eficaz os nomes e a história de vida de uma série de criminosos, assassinos e vigaristas ao longo de vários séculos. Tudo narrado de forma magistral. Nascido em Buenos Aires em 1899, Jorge Luís Borges pertence ao grupo de escritores que desde tenra idade tiveram a certeza de que os seus destinos seriam literários. Não foi só um grande poeta, um fazedor e um verdadeiro mestre do conto, mas também um dos mais argutos e originais ensaístas do nosso tempo, sem esquecer a sua atividade de tradutor e antologista. Apenas conheceria a fama internacional em 1961, ano em que lhe é concedido o Prémio Formentor, que compartilhou com Samuel Beckett. A partir de então, são inúmeros os prémios, distinções e homenagens. Foi diretor da Biblioteca Nacional de Buenos Aires de 1955 a 1973. Morreu em Genebra, a 14 de junho de 1986, com 86 anos de idade.

Pablo Neruda e o seu Canto Geral foram os protagonistas da edição do mês de junho que teve como convidado o músico, poeta e letrista Pedro Abrunhosa. O encontro, moderado por Nicolau Santos, aconteceu no dia 18 de junho. Concebido como Canto Geral do Chile ou, mais precisamente, como uma obra de contornos épicos que abarcasse toda a geografia e história do Chile e as suas repercussões no homem, este livro, iniciado em 1938, viria a transformar-se, com o tempo, num Canto Geral da América. Obra escrita na sua maioria na clandestinidade, é mais representativa do autor que a construiu e forjou numa espécie de nomadismo constante, em busca da sua forma final. Metáfora da sua própria vida e das causas e convicções que abraçou. Foi objeto de inú- meras perseguições dos líderes políticos, especialmente no Chile e na Argentina. As suas obras foram censuradas e banidas. A primeira edição do Canto Geral (de tiragem restrita e numerada, com ilustrações de Diego Riviera e David Siqueiros) foi publicada no México, em 1950, logo de seguida, no mesmo ano, numa edição clandestina no Chile. Poeta, diplomata, homem da palavra, exilado da sua pátria, viajante do mundo, Pablo Neruda teve na sua passagem por Espanha um período importante da sua vida. Regressou ao Chile em 1938, com um grupo de refugiados espanhóis. Tal atitude seria responsá- vel por novo desterro, desta vez no México, onde se dedicou intensamente à produção de poesia. Em 1943 regressou, uma vez mais, ao Chile, sendo recebido como um herói pelos seus conterrâneos. Nos anos seguintes dedicar-se-ia à causa pública chilena, mantendo um papel político ativo mas sem nunca abandonar a escrita.